" ... Estar amando, é pois, sentir medo da entrega encorajadora.
É perceber-se pego em flagrante existencial, no exato momento em que se roubava do próprio ser o principal tesouro escondido...
... É não controlar o ficar vermelho, o encabular em hora errada (certa).
Estar amando é viver em público a autodenúncia do melhor de que se é capaz...
...Tudo o que nos é profundamente verdadeiro assusta ao mesmo tempo em que libera e alivia.
O susto é uma forma súbita de enfrentar o que sempre tememos encontrar, aceitar ou admitir.
O que nos é profundamente verdadeiro sempre vem de mãos dadas com as nossas maiores fraquezas, dependências, carências e necessidades.
Daí o susto, daí a angústia, o frio gostoso do medo de amar, primo-irmão do medo de ser!
Uma pequena angústia no meio de tanta alegria!
Mas condensa toda a carga do susto pela proximidade do enfrentamento da nossa verdade, seja ela qual for...
No susto que vem junto com a alegria do amor, está a antecipação dos filhos que teremos, das crises a enfrentar, do mistério em tudo incubado, da nossa dificuldade ( e mania) de decifrar e entender o que era apenas para sentir, sem complicar!
...Na angústia associada à alegria da descoberta do amor, estão os fracassos de todas as experiências anteriores da espécie, os enganos, os ódios gerados depois do amor amado errado, apodrecido, desamado.
Fracassos e ódios da espécie jogam um fluido negativo de aviso e alerta em cada relação que nasce...
...O susto de estar amando, porém, pode não ser nada disso.
Pode ser, tão-somente, o abalo, o tremor, o começo da excitação, aquela sensação de procura, modo e medo que faz as espécies se fundirem na noite dos tempos, na eterna tarefa de perpetuar a vida não se sabe por que,
...só se sabe que é bom, necessário, imperioso, determinado, vital, instintivo, futuro e passado ao mesmo tempo: emoção inaugural...
a emoção de estar sendo eterno no dolorosamente provisório!
( Arthur da Távola)
Abraços com Afeto!
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