A ALMA DOS CONTÁGIOS



"Contagiamo-nos com o ângulo pelo qual nos vêem ou sentem.
Somos bons, com quem nos acha bom, 
inteligentes com quem inteligentes nos considera 
 e 
maus com quem nessa conta nos tem.

Possuímos - evidentes ou latentes - todas as partes que vêem em nós.

Quem não gosta do que somos ou de como somos, 
faz-nos o favor de revelar 
- de maneira exagerada e negativa -, 
partes nossas apenas subjacentes ou disfarçadas mas reais. 

Quem gosta faz idêntico favor: o de nos fortalecer no lado sadio.

O fato é contágio.
Também contagiamos os que nos julgam. 
Daí o mistério da afinidade. 

Aceitos, crescemos e devolvemos crescimento, fazendo o outro crescer.

Desaceitos, encolhemos e fazemos encolher.

Quando queremos dizer algo para quem afina conosco, 
encontramos as palavras precisas, fluentes, adequadas.

Dizer exatamente o mesmo para um não afim, 
bloqueará a expressão, torna-la-á imprecisa,difícil, obscura.

O afim está aberto a ouvir e 
o não-afim só pensa no que pretende dizer, logo, 
não nos aceita em profundidade, antes, rejeita.

Não basta o outro mudar.
É necessário que também mudemos para nele descobrir partes desconhecidas.

Se enriquecermos nossa visão do próximo com mais elementos, 
novos filtros  e lentes melhores que as habituais, 
vamos descobrir-lhe paisagens belas e, assim, 
ajudá-lo a descobri-las, ele também.

Precisamos aprender a mudar a ótica restritiva das impressões cristalizadas.

Mal conhecemos alguém e para maior conforto interior, o classificamos, catalogamos e imobilizamos.
A partir desta prematura e limitante catalogação só nos relacionamos com o que está no rótulo, jamais admitindo novas combinações.

Abrimos mão do esforço de descobrir partes não exercitadas de cada ser.

A descoberta e revelação do ser de quem nos é familiar
infelizmente só vem quando há perda, 
abandono ou morte, 
quando já não há tempo 
para com ele conviver na harmonia da reciprocidade.

É preciso, pois,  empreender uma cruzada de compreensão e técnica, 
a de ver além dos rótulos que fabricamos 
para os demais ou eles mesmos assim o determinaram.

A descoberta do que existe, dorme, jaz ou lateja no ser humano
é desafio de afinidade e empatia 
talvez apenas possível no amor ou com amor, 
mas, estranhamente, 
é a descoberta profunda do outro como próximo,
vale dizer, pedaço do eu.

Autorizada pela percepção e reconhecimento, 
a melhor parte do outro 
começará a viver.

O QUE É BOM PARA QUEM AMAMOS É QUE É BOM PARA NÓS. "

(Artur da Távola)


Com Muito Carinho um Grande Abraço!

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