O RISO COMO O INDICADOR DA ALMA



"...A pessoa que ri geralmente nunca sabe que efeito o seu riso provoca.
 Tal como não sabe ( aliás, ninguém sabe) a cara que faz quando dorme. 

Há quem mantenha no sono uma cara inteligente, mas outros há que,
 embora inteligentes, fazem uma cara tão estranha que provocam risos.

Não sei por que isso acontece, 
mas apenas quero salientar que a pessoa que ri,
 tal como a pessoa que dorme, não sabe a cara que faz. 

De uma maneira geral, há muitíssimas pessoas que não sabem rir.

 Aliás, isso não é coisa que se aprenda: 
é um dom, não se pode aperfeiçoar o riso. 

A não ser que nos reeduquemos interiormente, 
que nos desenvolvamos para melhor e 
que superemos os maus instintos do nosso caráter,
 e então o riso  também poderá possivelmente mudar para melhor. 

A pessoa manifesta no riso aquilo que é, 
é possível conhecermos num instante todos os seus segredos!

Mesmo o riso incontestavelmente inteligente é, às vezes, abominável. 

O riso exige em primeiro lugar sinceridade, 
mas onde está a sinceridade das pessoas ?
O riso exige  a ausência de maldade, 
mas as  pessoas, na maioria dos casos, riem com maldade.

Um riso sincero e sem maldade é pura alegria,
mas, nos tempos que correm, onde está a alegria ? 
E poderão ser as pessoas alegres ?

A Alegria é um dos mais reveladores traços humanos,
basta a alegria para revelar as pessoas dos pés à cabeça. 

Por vezes não haveria meio de percebermos o caráter de uma pessoa, 
mas basta ela rir para lhe conhecermos o feitio como a palma de nossa mão. 
Só as pessoas desenvolvidas do modo mais elevado e feliz sabem ser contagiosamente alegres, 
de uma maneira irresistível e benévola. 
Não falo de desenvolvimento intelectual, 
mas de caráter, do homem como um todo.

Portanto, se quiserdes compreender uma pessoa e conhecer-lhe a alma 
não presteis atenção à sua maneira de se calar,
 ou de falar, ou de chorar, 
ou de se emocionar com as idéias mais nobres, 
antes olhai para ela quando se ri. 
Ri-se bem - é boa pessoa!

Observai depois todos os matizes: por exemplo, 
é preciso que o riso não pareça estúpido,
 por mais alegre e ingênuo que seja. 

Mal detecteis a mais pequena nota de estupidez num riso, 
ficai sabendo que a pessoa que assim ri é intelectualmente limitada,
 apesar de ter inúmeras idéias. 
Se o riso de uma pessoa vos parecer estúpido,nem que seja um pouquinho,
 ficai sabendo que não há na pessoa que ri bondade suficiente.

Por ultimo, notai que, mesmo que um riso seja contagioso mas que por qualquer razão vos pareça vulgar,
também a natureza dessa pessoa é vulgar, 
que toda a nobreza e espírito sublime que ela apresente, 
serão fingidos ou imitados inconscientemente, 
e que essa pessoa, no futuro, mudará inevitavelmente.
... abandonando sem pena as idéias nobres...

... Apenas entendo que o riso é a mais certeira prova da alma. 

Olhai para uma criança: 
só as crianças sabem rir com perfeição, por isso são fascinantes!

...A criança que ri alegremente é um raio do paraíso, 
é o futuro do homem quando ele, finalmente, se tornar tão límpido, sem malícia, como uma criança. "

( Dostoiévski )


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A ILUSÃO DA CONSISTÊNCIA



"O homem não é permanentemente igual a si mesmo.
 A velha concepção dos caracteres retilíneos e 
das mentalidades cristalizadas 
em sistemas imutáveis abriu falência. 

Tudo muda no espaço e no tempo.
Para um organismo vivo, existir é ... transformar-se.

Quando começamos cedo e envelhecemos na atividade das letras, 
não há em nós apenas um escritor. 
Houveram escritores sucessivos, múltiplos e diversos, 
representando estados de evolução 
da mesma mentalidade incessantemente renovada.

Ao chegar a altura da vida em que a estabilização se opera, 
olhamos para trás, 
e muitas das nossas próprias obras parecem-nos escritas por um estranho,
já tão longe se encontram, 
não apenas dos nossos processos literários, 
mas do nosso espírito, das nossas tendências, 
da nossa orientação, dos nossos pontos de vista éticos e estéticos.

Nesse exame retrospectivo, por vezes doloroso, 
se de algumas coisas temos de louvar-nos, 
de outras somos forçados a reconhecer a  pobreza da concepção, 
os vícios da linguagem, as carências da técnica, 
e tantas vezes as audácias, as incoerências, as injustiças, 
as demasias, a licença de certas pinturas de costumes 
e o erro de certas atitudes morais.

É preciso re-começar - bem o sei - na literatura como na vida!

...O nosso organismo é uma máquina, gasta-se, como todas as máquinas;
 e, por milagre da natureza, 
ainda é aquela que, funcionando permanentemente, 
consegue durar mais tempo.

... A vida não é só o entusiasmo dos moços, nem só a reflexão dos velhos; 
não está apenas na audácia de uns, nem apenas na experiência de outros, realiza-se pela magnífica integração das virtudes contrárias, 
sem a qual não seria possível, 
em todo o seu esplendor, a marcha da humanidade."


(  Júlio  Dantas,  in "Páginas de Memórias" )


Muitos Beijinhos de Gratidão 


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