A DOR QUE VEM DE DENTRO


..." A dor como  reflexo a um  estímulo físico externo, nocivo e concreto, é universal  e independe do estado psíquico da pessoa, embora este possa intensificar sua percepção e exteriorização. 
Já a dor proveniente do interior do organismo comporta um grau importante de sensibilidade individual, de sorte que uns a suportarão menos que outros. 

A existência de tal componente individual no limiar da dor parece relacionar-se, no organismo, ao nível de substâncias chamadas de endorfinas, que grosseiramente (como o próprio nome sugere) poderiam ser entendidas como analgésicos liberados no interior do  organismo.
O nível dessas substâncias, por seu turno, parece guardar  nítida relação com o estado psíquico e emocional da pessoa...

... Outro aspecto importante diz respeito às exteriorizações do sentimento doloroso, que parecem guardar nítida relação com a história de vida do indivíduo, em que a manifestação da dor foi, ao longo do tempo, o meio através do qual obteve carinho, estímulo e atenção. 

Essas exteriorizações, são os meios de que a pessoa lança mão para demonstrar aos que a cercam que está sentindo dor. Consistem em gemidos, gritos, solicitações de assistência e/ou remédios, posturas  como andar com o corpo dobrado, colocar as mãos nas costas, na cabeça, etc...

Existem pessoas, e todos que trabalham na área da saúde podem observar isso, que, de tanto usar a dor ao longo da existência para obter atenção e ser objeto de cuidados, desenvolvem, voluntária ou involuntariamente, um comportamento reflexo em relação  à dor. 

Desse modo "cultivam" sua dor pela vida, e com o passar do tempo , 
ela se torna desproporcional, ou até independente, da existência de algum estímulo orgânico real. 
Com o comportamento doloroso, essas pessoas estarão tentando obter, por via dos mencionados operantes da dor, 
"os estímulos ou reforços positivos que já obtiveram anteriormente".

... Como todo sintoma orgânico, a dor é também uma forma de expressar sofrimento, pedir ajuda e atenuar a angústia interior. 

Pode-se entendê-la como uma forma falha, fracassada ou imprópria de contornar o conflito interior que, consciente ou inconscientemente, angustia a pessoa... Também pode ser o meio de manifestar através do corpo os afetos e sofrimentos não expressos verbal e claramente.

Nesse sentido, de bloqueio da expressão afetiva, a repressão da agressividade desempenha um papel importante. 
Seria como se, carregada de agressividade contida, 
a pessoa não agredisse os outros mas a si mesma.

A natureza do conflito, a forma  de lidar com ele e os aspectos sócio-culturais envolvidos determinariam o simbolismo da manifestação dolorosa.

...Existem pessoas, e creio que todos nós conhecemos pelo menos uma, que dão a nítida impressão de que, sem dor, não conseguiriam viver. 

A dor parece fazer parte de sua vida de tal forma "que sempre dói alguma coisa e, quando não há dor, inquietas, essas pessoas tentam encontrá-la em alguma parte do corpo".
São os chamados pacientes propensos à dor... A propensão à dor desses indivíduos parece a forma que encontraram  para assegurar o equilíbrio psíquico. 

São pessoas que, do ponto de vista psicodinâmico, 
renovam, vida afora, o ciclo de agressão (geralmente reprimida) 
- culpa - depressão - reparação da culpa por intermédio do sofrimento, castigando o próprio corpo.

... O surgimento da dor nesses pacientes costuma ocorrer quando vivenciam conflitos de ordem sexual ou de relacionamento pessoal, situações carregadas de agressividade nem sempre exteriorizada.
Surgem também por ocasiões de perda, 
seja de alguém querido ou 
de uma situação que a pessoa valoriza ( status, emprego, etc.).

São dores plenas de simbolismo, e o interrogatório médico em geral revela uma sofrida história de vida, com fortes tendências masoquistas e sentimentos de culpa a exigir punição.

Além disso, há ainda a satisfação que o próprio indivíduo obtém para si mesmo com a auréola de mártir de que se reveste.

...A doença surge então como um meio do indivíduo de fazer frente a seu conflito interior, que poderia receber outras tentativas de solução. 

Não é à toa que, em alguns idiomas, as palavras "vazio" e "doença" são muito parecidas; ou seja, a doença viria para preencher algum "vazio" na vida do indivíduo. 

Seria a forma que teria escolhido para dizer ao mundo de seu sofrimento.

...O Amor, significando basicamente generosidade, 
é a melhor forma de que dispomos para preencher esse vazio, 
seu papel como "vacina", isto é, 
como um preventivo contra as doenças, fica automaticamente demonstrado.

...É necessário que não tenhamos medo de nos mostrar às outras pessoas,
tal como de fato somos. 
Com nossos momentos de angústia e aflição, com nossos rompantes de irritação, com nossa insegurança e fragilidade.
Com os impulsos de mesquinharia, de inveja, de ciúme e até de mentira e hipocrisia, que a todos nos assaltam,
variando apenas a intensidade e a frequência.

Essa mudança de comportamento vale para todas as áreas de nosso relacionamento: familiares, companheiros de trabalho, amigos, vizinhos, clientes, etc. 
É um processo difícil, lento, arriscado, mas que, uma vez iniciado, terá um potencial de benefícios bem maior que o de riscos..."


( Dr. Marco Aurélio Dias da Silva )



Recebam Um Grande Abraço!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...